“Para quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve”. Essa é uma fala do Gato de Cheshire, também conhecido como Gato Risonho, na obra literária “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll.
A citação se aplica em diversos contextos e, claramente, no financeiro não seria diferente. Sempre me perguntam: “Quanto poupar e investir por mês? Por quanto tempo investir? Onde devo aplicar o meu dinheiro?”
Respondo com outra pergunta: “Aonde você quer chegar?”
Você poderia entender como: “Quais seus objetivos financeiros no futuro e em quanto tempo os quer atingir?”
A frase do livro, carregada de sabedoria, traduz a importância de ter um plano claro, especialmente quando se trata de algo tão essencial quanto a nossa vida financeira. Afinal, sem uma direção definida, é fácil perder-se em meio às inúmeras opções e incertezas do futuro, deixando a construção de uma vida tranquila para depois – o que pode custar muito, mas muito caro adiante.
Construir um plano financeiro para o futuro é mais do que simplesmente poupar; é estabelecer uma rota detalhada para chegar a um destino específico: a tranquilidade financeira.
Sem essa rota, os riscos aumentam de maneira drástica. Em vez de escolher com propósito e critério, você pode investir de maneira esporádica, sem uma estratégia clara, e correr o risco de não ter o suficiente para cobrir suas necessidades; afinal, para quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve, certo?
Não na questão financeira.
O fato de não definir um objetivo claro e traçar uma rota para chegar lá com certeza te frustrará no futuro.
A aposentadoria, em sua essência, é o tempo de colher o que foi semeado ao longo de anos — e um bom planejamento ajuda a assegurar que a colheita seja abundante e duradoura.
Assim como em uma viagem, no planejamento para a aposentadoria, é importante definir o que se quer alcançar – em termos de estilo de vida, despesas e expectativas. A partir daí, o plano ajuda a traçar uma rota sólida, orientando as escolhas de aportes e investimentos. Quanto mais cedo começar, maior é o poder dos juros compostos, que impulsionam o crescimento do patrimônio, além da possibilidade de ajustar o plano ao longo do tempo, conforme as metas ou as circunstâncias mudarem – o que é completamente normal e, na verdade, provável.
Sem um plano financeiro, você pode depender unicamente de benefícios governamentais ou de outras fontes de renda, que, talvez, não sejam suficientes para garantir um padrão de vida confortável, ou o que você almeja no futuro.
Em contrapartida, com um plano bem estruturado, você tem autonomia para decidir sobre quando e como parar de trabalhar, com a confiança de que estará preparado para enfrentar os imprevistos e as despesas que possam surgir.
Portanto, construir um bom plano financeiro é garantir que você esteja no controle de seu futuro, caminhando em direção a um destino bem definido. Com ele, cada passo dado hoje o leva mais próximo de uma aposentadoria segura, ao invés de confiar que um caminho qualquer o levará até lá.
Imagino que talvez tudo isso já esteja claro em sua mente, mas colocar em prática ainda seja um pouco complicado — afinal, exige alguns passos que envolvem contas e, por mais que você mande bem em matemática, talvez ainda se sinta um pouco perdido sobre por onde começar.
Antes, preciso te dizer que preparei uma planilha nova e simples, para que você consiga cumprir todas as etapas que eu vou listar abaixo em poucos minutos.
Vamos juntos descobrir como elaborar um bom planejamento para sua independência financeira?
Para finalmente alcançar a independência e a tranquilidade financeira, as etapas a serem seguidas são:
Vem comigo entender em detalhes e de forma simples o que fazer em cada um deles.
Para colocar esse passo em prática, comece refletindo sobre o tipo de vida que gostaria de levar. Imagine, por exemplo, que você deseja viajar anualmente, manter um imóvel próprio, ter um plano de saúde mais robusto ou até reservar uma quantia para hobbies específicos. Com base nesses desejos, faça uma estimativa de quanto cada item custa hoje.
Nessa etapa, considere o seguinte:
Totalize esses valores para ter uma noção clara de quanto esse padrão de vida custaria hoje. Isso serve como base para calcular o montante necessário e ajustar o plano ao longo do tempo. Vamos criar um exemplo básico com números para te ajudar a visualizar!
Imagine que, ao se aposentar, você deseja fazer uma viagem internacional por ano, morar em um imóvel próprio, ter um plano de saúde robusto, manter um bom padrão de alimentação e reservar um valor para atividades de lazer. Com isso em mente, vamos estimar os custos anuais desses itens aos valores de hoje:
Portanto, o custo anual estimado para manter o padrão de vida desejado na aposentadoria é de R$150.000 aos valores de hoje — o que significa um custo de R$12.000 por mês.
Esse montante fornece uma base para projetar o quanto você precisará acumular para sustentar esse estilo de vida, considerando o tempo previsto para a aposentadoria e a expectativa de quantos anos pretende viver após parar de trabalhar.
“Gui, mas eu não sei qual padrão de vida eu gostaria de ter”.
Lembre-se da frase do Gato de Alice: “Para quem não sabe o que quer, qualquer caminho serve”. O pior é que, no caso das finanças, seguir sem uma rota te levará para um destino nada agradável.
Pense um pouco sobre isso e faça as contas de quanto o padrão de vida desejado iria custar atualmente, sabendo que isso pode se alterar ao longo do tempo — o que é normal, afinal mais filhos podem surgir, novos hábitos podem ser criados e os planos podem mudar, o que significa que o valor almejado pode aumentar ou diminuir. Apesar disso, é importante traçar uma rota inicial.
Essa etapa está totalmente sob o seu controle e eu não consigo te ajudar com isso, mas o bom é que ela é uma etapa relativamente simples. Vamos para a próxima!
Definir em quanto tempo você quer atingir essa liberdade é essencial, pois influencia diretamente o plano de aportes e a estratégia de investimentos.
Esse prazo depende da idade em que deseja se aposentar, ou simplesmente alcançar a liberdade financeira. Por exemplo, se você pretende alcançar esse objetivo em 20 anos, o plano será bem diferente de alguém que tem 10 ou 30 anos para construir o mesmo patrimônio.
Vale ressaltar que, quanto menor o tempo para chegar lá, maior deverá ser o esforço em termos de aportes, ou seja, maior deverá ser a quantia que você poupa e investe recorrentemente.
É importante eu ressaltar que esses são os únicos dois passos do planejamento que você deverá fazer sozinho; as próximas etapas poderão ser realizadas através da planilha que compartilharei com você. De qualquer forma, é importante que você entenda o raciocínio de como ela funciona, se atentando a cada um dos passos.
Para que o planejamento financeiro seja realista e mantenha o poder de compra no futuro, é essencial considerar a inflação. No Brasil, uma taxa de 5% ao ano pode ser uma referência para essa correção, mas é importante revisá-la periodicamente, pois ela pode variar conforme o cenário econômico.
Como colocar esse passo em prática? Eu explico.
Para começar, estime o padrão de vida anual atual: suponha que você já tenha calculado o custo do padrão de vida desejado, como fizemos no exemplo anterior (R$150.000 anuais).
Depois, ajuste pela taxa de inflação. Aqui, deve aplicar a taxa de inflação de 5% anualmente para projetar quanto custará esse padrão de vida no futuro. Se pretende se aposentar em 20 anos, por exemplo, pode utilizar uma fórmula de crescimento composto para simular o impacto:
Após 20 anos, esse valor de R$150.000 anuais, corrigidos por uma taxa de inflação de 5% ao ano, será aproximadamente R$398.000. Esse ajuste representa o valor necessário para manter o mesmo padrão de vida no futuro, mais especificamente daqui a 20 anos.
O padrão mensal, que antes era de R$12.500 em 20 anos, será de aproximadamente R$33 mil.
Isso significa que fazer um planejamento financeiro é mirar um alvo móvel, por conta da inflação. “É muito difícil fazer essa conta, certo?” Por conta própria, sim, mas não com a ajuda da planilha que eu vou compartilhar com você.
Esse método de multiplicação por 150 simplifica o cálculo para chegar ao patrimônio-alvo em 20 anos. A lógica por trás disso é que, ao dividir o valor mensal desejado por uma taxa de dividendo sustentável – 0,65% ao mês, obtém-se o montante necessário para que os rendimentos possam cobrir o custo de vida desejado, sem a necessidade de consumir o patrimônio principal.
Essa taxa de 0,65% é considerada viável para o médio e longo prazo, com uma carteira de renda bem diversificada e estruturada.
Dividir por 0,65% é o mesmo que multiplicar um número por aproximadamente 150, por isso, estamos fazendo dessa maneira.
Primeiro, calcule o valor mensal ajustado pela inflação: partindo do exemplo anterior, onde o custo anual de vida projetado era R$398.000, dividimos por 12 para obter o valor mensal:
Depois, multiplique por 150. Multiplicando esse valor mensal por 150, chegamos ao patrimônio necessário para manter o padrão de vida desejado:
Esse é o montante necessário para que você possa, de forma sustentável, retirar 0,65% ao mês e cobrir seu custo de vida projetado pelo restante da sua vida.
O que isso significa?
Que para você ter uma renda capaz de te garantir um padrão de vida equivalente a R$12.500 hoje, daqui a 20 anos, precisará acumular praticamente R$5 milhões.
Sempre que as pessoas fazem essa conta, elas acreditam que alcançar esse patrimônio em 20 anos será impossível, o que não é verdade; esse número é muito mais factível do que você imagina